film club
Em 2025, voltamos à nossa base, a Santarém, para sessões muito especiais de verão do nosso itinerante Film Club.
Deseja-se que possam encontrar neste clube de cinema uma oportunidade para conhecer um pouco mais sobre o processo criativo e para trocar experiências a respeito do acontecimento que é ver um filme em sala. Temos como objectivo introduzir novos públicos a diferentes obras audiovisuais através de um programa organizado e preparado para cada exibição. Um programa com um olhar contemporâneo, espírito comunitário, de cariz social e humanista, que possa refletir sobre o mundo, pensando um tópico de cada vez.
Após a projeção especial no dia da criança, a waves of youth regressa a Santarém para quatro novas sessões do nosso film club. O Centro Cultural Regional de Santarém recebe, entre junho e julho, um olhar sobre os realizadores do cinema português futuro, com vista para os clássicos passados do cinema.
GREICE / 28 JUN / 22H00
A primeira sessão traz-nos Greice, de Leonardo Mouramateus, onde uma jovem brasileira a viver em Lisboa, é envolvida num misterioso acidente que a leva de volta a Fortaleza. Entre quartos de hotel e telefonemas evitados, Greice procura reencontrar-se e compreender o seu lugar no mundo. Não é apenas um drama de juventude e deslocação, é também um filme sobre as ambiguidades da representação. Greice, tal como o próprio filme, contorna a verdade, reinventa-se a cada passo e move-se entre o real e a ficção. Mouramateus constrói um retrato fragmentado e instável, tão íntimo quanto esquivo.
DEPOIS DAS CIDADES / 5 JUL / 22H00
A segunda sessão leva-nos aos novos realizadores e realizadoras do cinema português, com quatro filmes com temáticas comuns. Uma sessão de curtas-metragens sobre as periferias, as comunidades, a ruralidade e o quotidiano depois das cidades.
Nunca Estive Tão Perto, de Francisca Dores, mergulha-nos num território rural onde os tempos colidem. À medida que as máquinas moldam e consomem a paisagem, ecos de uma comunidade ouvem-se nos sinos. Durante a noite, luzes e ruídos desenham uma geografia onde tudo se comunica numa linguagem sem palavras. Mais do que representar um lugar, o filme convoca uma realidade em transição que se revela nos pormenores: no esforço dos corpos, no ritmo da natureza, nas marcas do que arde e do que persiste.
Vegetalidade, de Frederico Cordeiro Ferreira, acompanha um dia na vida de três homens sem-abrigo num cenário rural distópico, onde realidade e metáfora se entrelaçam. Inspirado no poema homónimo, o filme propõe uma meditação visual sobre a frágil harmonia entre o ser humano, a natureza e algo maior. Com uma linguagem profundamente sensorial e poética, a curta evita explicações fáceis, preferindo evocar um mundo à margem da lógica contemporânea. É uma fábula sobre abandono, espiritualidade e o esquecimento das raízes, num tempo onde o progresso parece distanciar-nos da terra e de nós próprios.
ALÉMKhush, de Marina Leonardo, oferece um retrato luminoso e sensível de quem escolheu Portugal rural como novo lar. Num cenário de aldeias tranquilas, o filme revela rostos vindos de longe e que aqui encontraram trabalho, comunidade e espaço para recomeçar. Longe dos grandes centros urbanos, estes novos habitantes trazem consigo sabores, saberes e afetos que transformam silenciosamente a paisagem humana. Com uma abordagem íntima e sem dramatismos, o filme dá voz a vidas reais, marcadas pela distância, pelo esforço e pela vontade de pertença. É uma celebração de encontros: entre culturas, entre pessoas, entre mundos que se cruzam nas margens do campo, onde o acolhimento ainda pode ser gesto quotidiano.
Por fim e em antestreia, Uma Mulher do Género, de Raquel de Lima, acompanha o quotidiano de três mulheres rurais que desafiam expectativas e ocupam profissões tradicionalmente associadas a homens. Entre entrevistas informais e uma observação delicada das suas rotinas, a narrativa revela-nos a força dos gestos diários e a beleza discreta do trabalho no campo. Mais do que um retrato de resistência, o filme propõe um olhar poético sobre o feminino em contextos onde ele é muitas vezes invisibilizado, dando corpo e voz a histórias de autonomia, cuidado e pertença.
Anunciadas agora as duas primeiras sessões, prometemos para muito breve o anúncio de outras duas mais, inseridas no nosso ciclo film club music, onde iremos ter músicos a interpretar e a criar ao vivo bandas sonoras de grandes clássicos do cinema mundial, a 19 e a 26 de julho, completando assim a nossa programação de verão, sempre com entrada livre e a partir das 22h00 no pátio do Centro Cultural Regional de Santarém, com Q&A no final de cada projeção.
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